Revista ‘Playboy’

Ensaio fotográfico para a revista Playboy, em novembro de 1999

Fotos: Murillo Meirelles

Ela não lembra exatamente quando escolheu usar perfumes doces. Lembra, sim, que a decisão do aroma certo é tão derradeira quanto a medida de um verso nas notas de uma canção. Nada de cítricos. Queria o simples cheiro das flores. Das baunilhas. Das maçãs. Principalmente das flores. Gentil. Compartilhando comigo suas descobertas no incrível mundo dos cosméticos; e mais uns tantos segredos. Engraçada. Aconselhada por outra amiga, é dada a fazer misturas, espalhando um pouco de dois frascos por pontos de seu corpo. Fazendo-se, de si, duas. Oferecendo a opção, que seria dela, para você. Intimidades são relativas, e Marina sabe disso. Reservada e entregue: essa é a fórmula que ela consegue destilar em suas veias. Despertando coisas em homens, mulheres e demais animais de estimação. Deixando seu corpo largado como uma pauta de música, espalhando seus tons numa lógica de métrica suave; notas vivas a criar harmonia. Pop enquanto símbolo, sexual enquanto disposta. Saliente como um bico de seio. Marina seduz de fãs a radiovitrolas, e você sabe do que eu estou falando.

Mas não vou cantar suas linhas em verso ou prosa, seria redundante. E só um texto preciso caberia sobre o corpo de Marina. Poderia, imagino, perder-me em sutilezas, formas, traços, sombras, reentrâncias, ressaltando mínimos detalhes que quase passariam despercebidos; como uma maneira específica em que ela repousa a boca, ou talvez algum contorno de pele arrepiada, quem sabe comparar suas curvas com o Corcovado… Acidentes acontecem, e Marina é linda. Linda. Não sei quando as palavras se tornaram necessárias, mas acredito que foi num momento em que as imagens falharam em dizer tudo. Sei que não é o caso, agora. Assim, deixo meus olhos livres, como os seus, a buscar revelações que ainda não perceberam. Escritores não devem ficar na frente de uma nudez como essa, disfarçando sua verdde.

Textos de Fernanda Young